Facções avançam em destinos turísticos do Nordeste
- Allyson Xavier
- 30 de jul.
- 2 min de leitura
As paisagens paradisíacas do Nordeste, vendidas como destinos de tranquilidade e lazer, convivem com uma realidade preocupante: a presença de facções criminosas que expandiram suas atividades para vilas turísticas. Cidades como Jericoacoara, no Ceará, Pipa, no Rio Grande do Norte, e Porto de Galinhas, em Pernambuco, aparecem em mapas oficiais de investigações policiais como pontos de interesse de grupos como Comando Vermelho, Sindicato do Crime e Trem Bala/Comando do Litoral Sul.

Em entrevista ao site BBC News Brasil, o promotor de Justiça Eduardo Leal dos Santos afirmou as facções são atraídas pela circulação de dinheiro nessas localidades, impulsionada por turistas nacionais e estrangeiros que frequentam festas e consomem drogas recreativas durante todo o ano. "São cidades com muito movimento, mas com estrutura de cidade pequena, com poucos policiais e pouca presença do poder público", afirmou o promotor.
A BBC News Brasil também conversou com moradores, que relatam que o tema ainda é tratado como tabu. Em Jericoacoara, uma residente que preferiu não se identificar criticou a disparidade entre a imagem vendida para fora e a realidade enfrentada pelos moradores. "O Estado vende isso aqui como paraíso, mas não garante o mínimo para a população. O assunto é abafado na cidade porque não se pode falar mal para não perder turistas", disse a moradora.

O convívio com o crime inclui relatos de ameaças, decapitações, tráfico a céu aberto e vigilância de “olheiros” nas ruas. Apesar da violência, as facções estabeleceram suas próprias regras: em Pipa, por exemplo, o grupo Sindicato do Crime proíbe furtos contra turistas, consumo de crack e até uso de rivotril, pelo impacto devastador dessas drogas. Essa lógica tem um objetivo claro: proteger a economia local, que depende diretamente da chegada de visitantes.
