Desmatamento em Belém pressiona imagem do Brasil antes da COP30
- Allyson Xavier
- há 2 dias
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Obra da Avenida Liberdade teve 76 hectares de floresta derrubados, mas governo nega relação direta com a conferência; cientistas alertam para contradições nas políticas climáticas do país

A derrubada de cerca de 76 hectares de floresta em Belém, o equivalente a 107 campos de futebol, para a abertura da Avenida Liberdade reacendeu críticas sobre a coerência da política ambiental brasileira às vésperas da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada na capital paraense em novembro de 2025.
Imagens de satélite e levantamentos jornalísticos confirmam a extensão da área desmatada, situada próxima ao bairro Tenoné. Ambientalistas apontam que a obra afeta diretamente a imagem do Brasil como anfitrião da conferência.
O governo do Pará afirma que o projeto não integra a lista das 33 obras oficiais da COP30 e que foi planejado antes da escolha da cidade como sede do evento. Em nota, destacou que o objetivo é melhorar a circulação entre o centro e a região metropolitana.
“A Avenida Liberdade é um projeto de mobilidade que antecede a escolha de Belém para sediar a COP30 e visa desafogar o tráfego, facilitando o acesso ao Distrito Industrial e ao porto”, declarou a gestão estadual.
Editorial na Science acusa contradição no papel do Brasil como anfitrião
O caso ocorre no mesmo momento em que um editorial da prestigiada revista científica Science, repercutido pela BBC em 20 de março de 2025, questiona o papel do Brasil na liderança climática. O texto, assinado pelos cientistas Philip Fearnside (Inpa) e Walter Leal Filho (Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo), afirma que, com exceção do Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, virtualmente todos os setores do governo promovem atividades que aumentam as emissões de gases do efeito estufa.
Entre os exemplos citados estão:
A recuperação da BR-319, no Amazonas, considerada um vetor para avanço do desmatamento.
Subsídios para transformar pastagens em lavouras de soja, incentivando a conversão de novas áreas e estimulando a compra de terras mais baratas em regiões remotas da Amazônia.
Abertura de novos campos de exploração de petróleo e gás, incluindo estudos na foz do Rio Amazonas, o que, segundo os autores, prolongaria o uso de combustíveis fósseis por décadas.
Para os cientistas, o plano de manter a busca por petróleo até o Brasil alcançar o nível econômico de países desenvolvidos é a fórmula para um desastre climático. Eles alertam que a destruição da Amazônia traria impactos severos, como:
Perda do papel do bioma no transporte de umidade para o Sudeste, aumentando secas extremas.
Transformação da região semiárida do Nordeste em deserto.
Aumento de tempestades e elevação do nível do mar nas áreas costeiras.
Impactos drásticos sobre agricultura e abastecimento de água.
O editorial defende que, para a COP30 ter impacto real, o país precisa conter o desmatamento e acelerar a transição para o fim do uso de combustíveis fósseis.
Fontes: Alma Preta Jornalismo, Canal PBS, Wikipedia (EN) Avenida Liberdade (Belém), BBC Brasil (20/03/2025), Science (Fearnside & Leal Filho, 2025)