China restringe cristãos e outras religiões na internet
- Allyson Xavier
- 24 de set.
- 4 min de leitura
Novo regulamento proíbe evangelização de menores, cultos online, arrecadação digital e uso de inteligência artificial para conteúdo religioso, afetando comunidades cristãs, budistas, muçulmanas e demais grupos de fé

A China anunciou em 15 de setembro de 2025 um conjunto de normas que limita drasticamente a atuação de líderes religiosos na internet. O documento, chamado “Regulamentos sobre o Comportamento Online do Clero Religioso”, possui 18 artigos e foi divulgado pela Administração Nacional de Assuntos Religiosos. A íntegra foi publicada no dia 18 de setembro de 2025 pela Bitter Winter, revista internacional dedicada à liberdade religiosa e aos direitos humanos, com foco especial na China.
O texto descreve que a política religiosa chinesa está longe de ser uma “liberdade de crença” e se assemelha mais a uma “liberdade para acreditar no que mandamos, em silêncio, offline e de preferência em mandarim”. Segundo a Bitter Winter.
“Você pode pregar, mas apenas por canais oficialmente sancionados. Você pode ensinar, mas somente em plataformas licenciadas. E, pelo amor de Deus, não faça lives de rituais de incenso.” (Bitter Winter)
As regras determinam que padres, pastores, monges e outros líderes só podem ministrar cultos ou aulas religiosas em plataformas oficiais licenciadas pelo governo. Contas pessoais, transmissões ao vivo, grupos no WeChat e fóruns informais estão proibidos para atividades religiosas. A evangelização de menores também foi vetada, bem como retiros e treinamentos online para jovens. “O clero não pode evangelizar usuários menores de idade ou organizar acampamentos ou treinamentos religiosos para jovens”, descrevem os regulamentos.
Além disso, está proibida qualquer forma de comercialização da fé pela internet, incluindo arrecadação de fundos, venda de artigos religiosos e monetização de atividades digitais. O uso de inteligência artificial para produzir ou difundir conteúdo religioso também foi explicitamente barrado.
Segundo o Bitter Winter, o objetivo do regulamento não é apenas restringir condutas, mas garantir alinhamento ideológico: o clero deve apoiar o Partido Comunista, promover valores socialistas e defender a “sinicização” da religião, ou seja, adaptar a fé para que esteja em conformidade com a ideologia estatal.
Em tom crítico, a publicação resume: “A expressão religiosa deve ser patriótica, amiga do partido e culturalmente higienizada — uma pregação com características chinesas.”
Quem descumprir pode perder o status clerical, ter contas online suspensas ou enfrentar investigações criminais. Plataformas que hospedarem conteúdos fora do padrão também podem ser obrigadas a restringir, advertir ou encerrar perfis infratores.
Embora as restrições afetem diretamente os cristãos, que vinham utilizando cultos e discipulados online como alternativa às barreiras físicas, as regras abrangem todas as religiões no país, incluindo comunidades budistas, muçulmanas e outras tradições. Analistas apontam que se trata de uma das medidas mais invasivas já impostas à vida religiosa na China, ao transferir para o ambiente digital o mesmo controle rígido já aplicado no espaço físico.

Os 18 artigos de regulamentação da China
Artigo 1 – Regulamentos criados com base em leis sobre Assuntos Religiosos, Administração do Clero e Serviços de Informação, para controlar a conduta online do clero e manter a ordem no campo religioso digital.
Artigo 2 – O clero deve amar a pátria, apoiar o Partido Comunista, seguir o sistema socialista e aceitar supervisão estatal e social.
Artigo 3 – Devem defender valores socialistas, apoiar a independência e autogestão das religiões, aderir à “sinicização” e promover harmonia social, étnica e religiosa.
Artigo 4 – Clérigos que usem contas públicas online devem apresentar certificados religiosos aos provedores de serviço.
Artigo 5 – Só podem pregar ou ensinar em plataformas oficiais de grupos religiosos autorizados, templos, igrejas ou escolas com licença estatal.
Artigo 6 – Devem resistir à “cultura negativa” da internet e não podem se autopromover ou usar conteúdo religioso para atrair atenção.
Artigo 7 – Proibido publicar conteúdos que incitem subversão contra o Estado, o Partido, o socialismo ou a unidade nacional.
Artigo 8 – Proibido colaborar com forças estrangeiras ou apoiar infiltração religiosa externa.
Artigo 9 – Proibida a promoção de vestimentas ou ideias religiosas extremistas, incitação ao fanatismo, terrorismo ou separatismo.
Artigo 10 – É vedado induzir menores à fé ou organizar atividades religiosas online para jovens.
Artigo 11 – Proibida a promoção de seitas heréticas (“xie jiao”) e superstições como astrologia e adivinhação.
Artigo 12 – Não publicar informações falsas, incitar discórdia ou insultar cidadãos religiosos e não religiosos.
Artigo 13 – Fora das exceções legais, proibido pregar por lives, vídeos curtos, grupos do WeChat ou realizar rituais online (incenso, orações, batismos etc.).
Artigo 14 – Proibido arrecadar fundos, vender produtos ou monetizar atividades religiosas online.
Artigo 15 – Proibida a distribuição de publicações religiosas internas ou ilegais na internet.
Artigo 16 – Uso de IA deve seguir a lei; é vedado pregar ou difundir conteúdo religioso por inteligência artificial generativa.
Artigo 17 – Violações podem resultar em advertências, suspensão de contas, perda de status clerical e até processos criminais.
Artigo 18 – Clérigos que usem plataformas estrangeiras ou de Hong Kong, Macau, Taiwan ou estrangeiros devem seguir essas regras no território chinês.
Fonte: Bitter Winter, Administração Nacional de Assuntos Religiosos da China






















