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Sexta, 08 de agosto de 2025.

Burnout agora é doença ocupacional reconhecida pela OMS

  • Foto do escritor: Allyson Xavier
    Allyson Xavier
  • 17 de jul.
  • 4 min de leitura

Mais de 30% dos brasileiros sofrem com burnout, deixando o país na vice-liderança mundial, atrás apenas do Japão


mulher afro em escritório com computador recebendo múltiplas cobranças de diversos colegas de trabalho
A cultura da produtividade excessiva, que valoriza quem ‘dá conta de tudo’, é parte do problema, aponta Carlos Manoel Rodrigues, professor do CEUB. Foto: Shutterstock

O cansaço constante, a irritação frequente, a dificuldade de concentração e o sono desregulado costumam ser vistos como consequências naturais da rotina agitada. No entanto, quando esses sinais se tornam persistentes e acumulativos, indicam algo mais grave: o burnout — uma condição de esgotamento extremo provocada por ambientes de trabalho que impõem níveis contínuos de estresse e pressão, muitas vezes desconsiderando os limites físicos e emocionais das pessoas.


Assim era na empresa em que João Aragão, desenvolvedor de sistemas, trabalhava. Ele enfrentava uma escala de trabalho 12 por 36, período noturno. Ele afirma que a demanda era colossal e o excesso de cobrança fez com que ele desenvolvesse uma dor de cabeça crônica "eu comecei a sentir uma dor de cabeça leve que, com o passar dos dias, ela foi aumentando muito, até que se tornou algo insuportável", lembra.


João chegou a ficar internado por quatro dias, com febre e dores de cabeças intensas sem chegar a um diagnóstico: "Fizeram vários exames, ressonância magnética, duas tomografias, até a punção lombar para tentar chegar a um diagnóstico, sabe? Eu saí com o diagnóstico de dor de cabeça. Porque não era nem enxaqueca, porque ela, quando você tira um raio-x e faz a tomografia, aparece quando é enxaqueca. Era dor de cabeça por causa de estresse. Por causa do trabalho", explica.


Reconhecida oficialmente como fenômeno ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde janeiro de 2025, a síndrome trouxe ainda mais urgência para medidas preventivas e de promoção da saúde mental. No Brasil, estima-se que cerca de 30% da população economicamente ativa sofra com burnout, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), colocando o país na segunda posição do ranking mundial, atrás apenas do Japão.


Como surge o burnout?


O professor de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Carlos Manoel Rodrigues, explica que o burnout não tem relação com fraqueza ou despreparo, mas com situações que ignoram limites humanos. Segundo ele, o quadro costuma surgir de forma silenciosa. Inicialmente, os sintomas podem ser confundidos com simples cansaço: exaustão persistente, irritabilidade, lapsos de memória, dificuldade de concentração e insônia.


“Muitas vezes, a pessoa vai ignorando esses sintomas, achando que faz parte da pressão do trabalho. Mas eles vão se intensificando até o corpo e a mente não aguentarem mais”, explica.


Se não for reconhecido e tratado, o burnout pode evoluir para quadros de ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais. Também pode provocar dores físicas, alterações cardiovasculares e até impactar as relações sociais e familiares:


“A cultura da produtividade excessiva, que valoriza quem ‘dá conta de tudo’, é parte do problema. E ainda recai sobre o trabalhador a culpa por adoecer.”


Um ambiente com metas inatingíveis, sobrecarga de tarefas, ausência de pausas e pouca valorização cria o terreno ideal para o esgotamento. “É como uma panela de pressão: se não há válvula de escape, uma hora ela explode”, alerta o professor.


Descobri que estou com burnout. E agora?


Para evitar o agravamento do quadro é preciso compreender que a origem do problema não está na pessoa, mas nas condições do ambiente de trabalho. Reconhecer isso ajuda a reduzir a culpa individual e permite buscar o apoio necessário.  A orientação é buscar apoio psicológico e, quando necessário, avaliação médica. “A psicoterapia é uma ferramenta importante, mas precisa caminhar junto com mudanças no estilo profissional”, ressalta.


Ajustar jornadas, garantir pausas regulares, estimular espaços de escuta e respeito dentro das equipes são medidas essenciais para a recuperação. Além disso, adotar hábitos saudáveis, como prática de atividades físicas e alimentação equilibrada, contribui significativamente para o bem-estar.


A escala de trabalho pode desenvolver o burnout?


Para o professor, a discussão sobre o burnout também passa pelo modelo de escala adotado nas empresas. Escalas como a 6x1 (seis dias de trabalho para um de descanso) são especialmente prejudiciais, por não oferecerem tempo suficiente para a recuperação do corpo e da mente. “Já a escala 4x3 (quatro dias de trabalho e três de folga) pode representar um avanço, desde que os dias úteis não sejam exaustivos. Não adianta ter mais dias de descanso se, durante os dias de trabalho, a pressão e o ritmo continuam abusivos. O equilíbrio precisa estar no todo”, pontua.


O burnout, conforme revela o docente do CEUB, é um alerta para a sociedade atual, mostrando que algo está fora de lugar nas relações de trabalho e de conceitos distorcidos e romantizados de produtividade. “E enquanto a lógica for a de exigir mais do que o corpo e a mente podem oferecer, os casos só tendem a crescer. O cuidado precisa deixar de ser exceção e se tornar regra”, arremata Carlos Manoel Rodrigues.


João teve a oportunidade de mudar de emprego para cuidar da saúde e comemora: "Hoje eu trabalho durante o dia, horário comercial mesmo. Tenho final de semana, tenho feriado. Meu trabalho ainda é crítico, mas bem mais controlado. Seria maravilhoso se todos pudessem escolher e ter um trabalho que não te esgote físico e emocionalmente", pondera.


Fonte: ANAMT, CEUB

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