Governo intervém e poupa JBS de lista do trabalho escravo em decisão inédita
- Allyson Xavier
- 1 de out.
- 2 min de leitura
Casos de exploração em granjas e pressões políticas expõem contradições no combate ao trabalho escravo no Brasil

A maior processadora de carnes do mundo, a JBS, voltou ao centro das denúncias de trabalho escravo em 2025. A empresa, alvo de fiscalizações no Rio Grande do Sul, foi autuada por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. Mas, apesar das evidências levantadas por auditores fiscais, uma sequência de decisões e manobras políticas resultou na exclusão inédita da companhia da chamada “lista suja”, o cadastro oficial de empregadores flagrados explorando mão de obra escrava no país.
Fiscalização e autuações no Rio Grande do Sul
Em abril de 2025, fiscais do trabalho realizaram uma operação em granjas fornecedoras da JBS Aves, no interior do Rio Grande do Sul. Pelo menos dez trabalhadores foram resgatados. Eles cumpriam jornadas de até 16 horas diárias em alojamentos precários, sem condições mínimas de higiene e segurança. As irregularidades foram confirmadas em autos de infração, que dariam origem à inclusão da empresa na lista do trabalho escravo.
Ministro assume decisão inédita
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite que o ministro do Trabalho assuma a decisão final sobre a punição ou não de uma empresa, mas essa prerrogativa nunca foi utilizada desde 2003, quando a “lista suja” foi criada, conforme aponta a ONG Repórter Brasil, especializada no assunto.
Em despacho emitido em 9 de setembro de 2025, a consultoria jurídica do Ministério do Trabalho considerou a avocação “legal e adequada”. O parecer foi assinado pelo procurador federal Ricardo Augusto Panquestor Nogueira, abrindo espaço para que Marinho tivesse a palavra final.
Ainda em setembro, o ministro interveio em outras etapas da investigação, adiando por tempo indeterminado a inclusão da empresa na lista. Reportagens do G1 e da Repórter Brasil revelaram que a medida contrariou auditores fiscais e gerou forte reação entre especialistas, que enxergam interferência política direta em um dos instrumentos mais eficazes de combate à exploração de trabalhadores no Brasil.
O jornal Metrópoles destacou que, pela primeira vez, um governo decidiu poupar uma grande companhia da penalidade, mesmo diante de autuações formais e resgates de trabalhadores em situação de escravidão contemporânea.

Risco de impunidade
Criada em 2003, a lista do trabalho escravo é referência internacional. Bancos, exportadores e redes varejistas já utilizaram o cadastro como critério para bloquear contratos com empresas infratoras. A decisão de poupar a JBS, abre um precedente perigoso: companhias com grande influência econômica e política podem escapar das consequências legais, enquanto trabalhadores seguem expostos a práticas de exploração.
Fontes: Metrópoles, Repórter Brasil, G1






















