Avião elétrico, hidrogênio descarbonizado e combustíveis sustentáveis: a revolução está no ar?
- Allyson Xavier
- 26 de out.
- 3 min de leitura

A França, segunda potência aeronáutica mundial, almeja criar o primeiro avião de baixo carbono até 2030 | Foto: Beyond Aero
“Substituir o querosene não é uma escolha, é uma obrigação. A questão é como fazer isso e em que escala”, afirma Eloa Guillotin, cofundadora da Beyond Aero, uma startup francesa de Toulouse, que está por trás do primeiro avião executivo elétrico movido a hidrogênio. A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) definiu uma meta para o setor atingir neutralidade de carbono até 2050, quando a aviação responde por 2,5% das emissões globais de CO₂.
A França, segunda potência aeronáutica mundial, almeja criar o primeiro avião de baixo carbono até 2030. Para isso, o governo, por meio do plano de investimentos France 2030, coordenado pela Secretaria Geral de Investimento, apoia a indústria com foco em designs de aeronaves, propulsão híbrida ou elétrica, materiais leves e conceitos aerodinâmicos avançados, alinhados pelo Conselho para Pesquisa Aeronáutica Civil (CORAC).
São cerca de 300 milhões de euros mobilizados anualmente pela Direção Geral da Aviação Civil, autoridade francesa sobre o tema, para tornar a aviação um pilar de reindustrialização, competitividade e transição ecológica.
Além da Beyond Aero, o plano France 2030 também apoia outras startups, como a Elixir Aircraft, Aura Aero, Ascendance Flight Technologies, VoltAero e BlueSpirit, com o objetivo de transformá-las em competidores globais e avançar na neutralidade do transporte aéreo.
“Vamos para um mix: hidrogênio descarbonizado, híbrido, combustíveis sustentáveis... e não um único combustível como o querosene hoje”, destaca Guillotin.
A curto prazo, os combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), feitos de biomassa não alimentar, resíduos agrícolas ou sintetizados a partir de hidrogênio descarbonizado e CO₂, são a solução mais imediata, reduzindo emissões em até 80% no ciclo de vida. O France 2030 estrutura uma indústria nacional, apoiando projetos como Kereauzen (Le Havre), TakeKair (Saint-Nazaire), DéZir (Rouen) e Bio T Jet (bacia de Lacq), com meta de produzir 270 mil toneladas anuais até 2030, evitando 750 mil toneladas de CO₂.
Beyond Aero: o hidrogênio descarbonizado em foco
A longo prazo, hidrogênio descarbonizado e eletrificação são as grandes inovações. A Beyond Aero, fundada em Toulouse em 2020 e premiada pelo France 2030, desenvolve um avião executivo de 6 a 9 lugares movido a hidrogênio, voltado para rotas regionais e aviação executiva, com autonomia de 1.500 km. Em fevereiro de 2024, voou o primeiro protótipo habitado francês com propulsão hidrogênio-elétrica.
“O hidrogênio emite só água, vai cinco vezes mais longe que baterias elétricas, é silencioso, tem custos operacionais baixos e pouca manutenção. Mas exige reservatórios quatro vezes maiores que o querosene, propulsão por célula de combustível e sistemas criogênicos complexos”, explica Guillotin. O desafio é o tamanho dos reservatórios e a infraestrutura de armazenamento.
Aura Aero: o elétrico para regiões isoladas
Para baterias elétricas, “o maior obstáculo é a massa necessária para armazenar energia em voos longos”, diz Lionel Bourgeois, líder do programa FILAE (Setor Aeronáutico Elétrico), lançado em 2024 pelo IRT Saint Exupéry e financiado pelo France 2030. O programa reúne pesquisadores, startups e indústrias para superar barreiras à eletrificação. A Aura Aero, de Toulouse e parte do FILAE, criou um avião de dois lugares 100% elétrico para treinamento de pilotos civis e militares, com autonomia de 1h30.

Avião de dois lugares 100% elétrico | Foto: Aura Aero
Até 2030, o FILAE lançará um modelo regional de 19 lugares com 8 motores elétricos e dois turbogeradores térmicos, reduzindo emissões de CO₂ em até 80% frente a aviões térmicos similares.
Com voos de 1h a 2h30, ele conectará regiões isoladas, como Nice-Calvi, com passagens a 100-150 euros, segundo o fundador Jérémy Caussade. “Abandonar aviões é ilusão; descarbonizar é a realidade”, conclui.























