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sábado, 13 de dezembro de 2025

Artigos e Opinião

Hipermobilidade: quando a flexibilidade cobra seu preço

  • Foto do escritor: Allyson Xavier
    Allyson Xavier
  • 28 de nov.
  • 3 min de leitura

Ser “muito flexível” parece uma virtude. Quem toca o chão com as mãos ou dobra o corpo com facilidade desperta admiração. Mas, em alguns casos, o corpo que se dobra demais vive uma batalha silenciosa para se manter inteiro.


A hipermobilidade articular — essa capacidade de mover as articulações além do limite comum — pode ser tanto uma curiosidade anatômica quanto uma síndrome complexa, que envolve dor, fadiga e instabilidade.


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- Foto: internet


O curioso é que, por muito tempo, essas pessoas foram rotuladas com outro nome: fibromialgia.

E, de fato, há sobreposição — as duas condições compartilham sintomas como dor difusa, sono leve e fadiga persistente. Mas não são sinônimos, nem excludentes. Muitos pacientes com hipermobilidade também têm fibromialgia, e isso torna o diagnóstico ainda mais desafiador.


“Enquanto a fibromialgia representa um distúrbio da percepção da dor, a hipermobilidade é um distúrbio da estrutura que sustenta o corpo”, explica médico fisiatra e especialista em dor,

Dr. Gropen. “Uma mexe na forma como o corpo sente; a outra, na forma como o corpo se mantém. Quando as duas se encontram, a dor se multiplica em complexidade.”



O grande equívoco é achar que ser elástico é o mesmo que ser saudável - Dr. Gropen
O grande equívoco é achar que ser elástico é o mesmo que ser saudável - Dr. Gropen

Quando o colágeno é elástico demais


O tecido conjuntivo — formado principalmente por colágeno — é o que dá firmeza às estruturas corporais. Na síndrome da hipermobilidade e em sua forma mais abrangente, a síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (SEDh), esse tecido é excessivamente elástico. O corpo se torna maleável, mas instável. O que deveria proteger começa a ceder, e o resultado é uma sequência de pequenas falhas biomecânicas que o sistema nervoso interpreta como dor.


“O grande equívoco é achar que ser elástico é o mesmo que ser saudável”, diz Dr. Gropen.

“Essas pessoas não são feitas de borracha, mas


de colágeno frouxo — e o preço é alto.”


Os sinais invisíveis: quando o corpo fala em códigos


Os sintomas vão muito além das articulações. A hipermobilidade é, na verdade, um distúrbio sistêmico, e seu impacto se espalha por todo o organismo.


É comum encontrar pacientes com:

• Tonturas e desmaios, especialmente ao levantar-se;

• Pressão baixa e palpitações;

• Fadiga desproporcional, sensação de “pilha descarregada”;

• Dores de cabeça e enxaquecas frequentes;

• Distúrbios gastrointestinais, como intestino irritável, refluxo e náuseas;

• Ansiedade e crises de pânico, frequentemente relacionadas a disfunções do sistema nervoso autônomo;

• E, em muitos casos, uma forma de disautonomia conhecida como POTS (síndrome da taquicardia postural ortostática), em que o coração acelera ao se levantar, como se o corpo esquecesse de equilibrar a própria pressão.


“O corpo fala em códigos — e o médico precisa aprender a traduzi-los”, diz o especialista.

“O que parece ansiedade pode ser falta de pressão; o que parece preguiça pode ser fadiga neuromuscular. É uma orquestra em descompasso.”


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Diagnóstico e reabilitação: o corpo como harmonia


O diagnóstico é clínico e exige uma escuta cuidadosa. Não há exame único, mas há padrões que se repetem: dor multifocal, instabilidade, fadiga e múltiplos sintomas “sem explicação”. O desafio é costurar essas pistas — e ver o todo.


A reabilitação é o eixo central do tratamento. Combinam-se cinesioterapia personalizada, métodos físicos, fortalecimento muscular inteligente, ajuste postural e educação do movimento.

O foco não é conter o corpo, e sim devolvê-lo à harmonia.


“A arte da reabilitação está em ensinar o corpo a se sustentar com elegância”, resume Dr. Gropen.

“É a beleza da força que apoia sem travar — firme o bastante para proteger, suave o bastante para permitir o movimento.”


Além da cinesioterapia, o manejo pode incluir melhora do sono, hidratação adequada, ajuste de rotina, apoio psicológico e algumas vezes a utilização de medicações.

Quando o paciente entende o próprio corpo, passa a ser o protagonista da sua melhora.


Entre o mito e a dor invisível


Entre o mito da superflexibilidade e a realidade da dor crônica, a hipermobilidade segue sendo uma fronteira pouco explorada entre a forma e a função. De fora, tudo parece normal — por dentro, o corpo tenta manter o equilíbrio que o colágeno não oferece.


“Esses pacientes não precisam de pena, precisam de estratégia e reconhecimento”, diz Dr. Gropen.

“Flexibilidade é virtude — mas só quando vem acompanhada de estabilidade. O corpo humano não foi feito para dobrar infinitamente, e sim para resistir com graça.”


E talvez essa seja a verdadeira lição da hipermobilidade:

a de que até a leveza precisa de sustentação, e que a beleza do movimento está em saber até onde ir — antes que o corpo peça, com elegância, para parar.


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